sábado, setembro 09, 2006

O GÊNIO BURRO

“Antoine constatara que, muitas vezes, inteligência é a palavra que designa baboseiras bem construídas e lindamente pronunciadas, e que é tão traiçoeira que frequentemente é mais vantajoso ser uma besta do que um intelectual consagrado. A inteligência torna a pessoa infeliz, solitária, pobre, enquanto o disfarce de inteligente oferece a imortalidade efêmera do jornal e admiração dos que acreditam no que lêem."

Até que ponto devemos nos esforçar tanto, num mundo em que as pessoas mais burras acabam se dando melhor? Este é o ponto principal de discussão do livro “Como me tornei estúpido”, de Martin Page. Antoine, personagem principal, é um rapaz muito inteligente que entende de diversos assuntos, porém seu conhecimento e sua consciência crítica transformaram-se em estorvos para viver no mundo atual. Então, ele decide investir na burrice como forma de sobrevivência e acaba se convencendo de que só a estupidez lhe permitirá ser plenamente aceito pela sociedade.

Em uma sociedade onde a burrice é exaltada e a inteligência menosprezada, essa pode até ser a melhor saída para alguns. Triste, não? Saber que existem milhares de ‘Antoines’ por aí desistindo de seus sonhos, de seus ideais, de suas vontades, de seus anseios. Desistindo da vida! E eu me pergunto: O que está acontecendo com as pessoas hoje em dia? Ouço tanta gente reclamando de que estão sozinhas, de que não conseguem encontrar um companheiro com quem possam conversar sobre tudo. É muito comum, homens e mulheres, dizerem que desejam ter alguém inteligente ao lado, que seja independente, companheiro, perspicaz, talentoso. Falar é simples, né? Difícil mesmo é colocar isso em prática. Pois grande parte dos que falam são os primeiros que desistem ou nem tentam se relacionar com alguém assim. E por quê? Por covardia? Por insegurança? Ou será por pura burrice mesmo? Ao que me parece, há um medo generalizado do conhecimento e do auto-conhecimento também. Falta coragem de conhecer e de conhecer-se, de crescer, de amadurecer, de pensar, de refletir. Falta coragem de tentar e até de querer! Enfim, falta coragem de viver...

“A estupidez das pessoas não deriva da sua falta de inteligência, mas da sua falta de coragem” (Michael Kerr)

por Flávia Carvalho

Um comentário:

Zeca-DF disse...

Obrigado pelas palavras. Escrevi já em minha vida muitas crônicas e poemas, cheguei a rabiscar algumas letras de canções, mas me identifiquei sempre na arte. Suas crônicas são muito profundas e como diz Alexis Carrel "A inteligência é quase inútil para quem não tem mais nada..." ou a frase de Paul Letaud "Somos tão responsáveis por sermos inteligentes como de sermos estúpidos. Não devemos orgulhamo-nos mais de uma coisa do que corar pela outra..."