terça-feira, setembro 19, 2006

FALAR É FÁCIL

"Sou dos escritores que não sabem dizer coisas inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos. Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte. Além disso, sou uma mulher simples, em busca cada vez mais de mais simplicidade. Amo a vida, os amigos, os filhos, a arte, minha casa, o amanhecer. Sou uma amadora da vida. Não escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que nascemos vai elaborando o roteiro de nossas vidas...” (LYA LUFT)

Normalmente nós temos pouco cuidado com as palavras ditas. Muitas vezes magoamos demais o outro por não escolhermos bem aquilo que falamos. Eu arriscaria dizer que é até mais fácil machucar do que enaltecer alguém com palavras. Temos dificuldade em falar do amor, da admiração que sentimos uns pelos outros. Algumas pessoas acham brega, por exemplo, escrever cartas de amor; outros acham cafona, antiquado e se envergonham disso. Sei lá, parece que é mais fácil mesmo criticar do que simplesmente elogiar. Mas hoje eu admirei ainda mais uma grande amiga por ter expressado todo seu carinho e admiração por mim ao me dizer: "Você é a minha Lya Luft...”. Não sei por que, mas essa simples frase me emocionou e fez meus olhos se encherem de lágrimas. Certas palavras e atitudes nos marcam tanto que dispensam explicações. E é por isso que eu agradeço a Deus todos os dias este ‘dom’ de conseguir, por meio das palavras, expressar minhas idéias, meus sentimentos, enfim, meus pensamentos. A leitura me fascina. Escrever é minha paixão. E são gestos como o seu, Marcinha, que me encorajam cada vez mais a abraçar de corpo e alma esse amor.
“...Eu sou sempre a mesma, nem demasiado séria, nem demasiado superficial. Deus nos livre de sermos circunspectos, politicamente corretos, chatos e metidos a ser modelo, não é? (LYA LUFT) Mas quem é essa mulher afinal? Alguém que joga com as palavras e com personagens. Cria, inventa, cisma, trama, sonda o insondável. "Tento entender a vida, o mundo e o mistério e para isso escrevo. Não conseguirei jamais entender, mas tentar já me dá uma enorme alegria.” O que mais me fascina nela é seu tom intimista que te pega pelo braço e te leva para uma viagem muito gostosa sobre temas da vida: amores, filhos, velhice, consumismo... Ela provoca, chacoalha as idéias e faz refletir. Para Lya ninguém é coitadinho. Ela não tem ‘freios’ na língua. Denuncia, critica estereótipos, valores hipócritas, aponta erros. E é isso que me estimula, me faz refletir sobre temas presentes em todas as fases de nossas vidas e sobre os rumos que podemos dar a cada um deles. Por tudo isso sou fã incondicional dessa gaúcha de quase 70 anos que me encanta a cada palavra. Precisa dizer mais?

“Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem." (LYA LUFT)
por Flávia Carvalho

4 comentários:

Anônimo disse...

Está cada vez melhor, pretinha.

Zeca-DF disse...

Flávia, admiro muito a sua sensibilidade que está em cada palavra. Eu guardei por muito tempo o meu lado escritor para me dedicar apenas as esculturas, mas ao ler suas crônicas me vejo motivado a escrever novamente. E no meu blog tentarei unir essas duas partes da minha sensibilidade e mostrar a minha arte com as minhas palavras. Felicidades, Zeca.

Anônimo disse...

Compreendi, ao reler os teus textos, por que o pequeno príncipe de Exupéry diz que "o coração vê mais longe que os olhos". É porque ele "enxerga" as coisas com o coração de criança: simples, despreocupada, "sem grilos". Nós, adultos, complicamos tudo: nada basta, nada é perfeito, nada satisfaz. "Pega mal" sermos sinceros e abrirmos o coração e dizermos, por exemplo, a alguém: "como você está linda!", "como você é inteligente!" Criamos obstáculos, barreiras que nos impedem de fazer da vida uma risada, uma canção, um poema...minhas filhas vivem dizendo para mim: "mãe, menos!" Elas não compreendem o meu coração de criança e é este coração - com os olhos cheios de lágrimas - mas que não se engana, que diz: Você, Flávia, é um presente! Merece todo o meu repeito e admiração porque consegue, neste mundo tão louco, saber exatamente para onde está indo e porquê. Não se deixa levar pela tentação das coisas fáceis, não se deixa manipular. Você quer SER MAIS!

Zeca-DF disse...

Obrigado Flávia, é um prazer conhecer pessoas sensíveis como você. Não precisa publicar essa post. Se precisar de algo o meu email é: jggomesp@zipmail.com.br
Um abraço, Zeca.