sábado, agosto 26, 2006

DE OLHOS FECHADOS...

Para encontrar um amigo, devemos fechar um olho. Para conservá-lo, devemos fechar os dois. (Norman Douglas)

Quem pensa em ter um amigo sem defeitos, jamais encontrará. Um dos grandes segredos que faz este sentimento perdurar, ou não, é o respeito às falhas de cada um. E respeitar não significa aceitar, ou simplesmente calar diante de situações. Significa simplesmente SER e DEIXAR SER! Isso mesmo: SER! Sem máscaras, sem amarras, sem vergonha, sem medo. É falar, criticar, elogiar, brincar, emocionar, emocionar-se, surpreender, ser surpreendido, ouvir e também calar. Mas dentro desse mundo tão complicado em que vivemos, cheio de dúvidas, incertezas, competição e egoísmo, está cada vez mais difícil. E encontrar alguém que SEJA e que nos permita SER é algo raro, algo supremo. Como disse VOLTAIRE, “...a amizade é um casamento de almas...”

Muitas pessoas vêm e vão nas nossas vidas. Algumas voltam. Nem todas permanecem, nem todas podem permanecer, mas todas têm uma missão. E se a missão foi cumprida, elas se vão. Nem por isso deixaram de ser especiais, deixaram de ser amigas, pois, naquele determinado momento em que você precisou delas, elas estavam lá. Antes eu achava que um bom amigo era aquele para a vida toda. Que não importava o tempo nem a distância, nada conseguiria mudar este sentimento. Mas hoje, depois de já ter deixado tantos amigos pra trás, eu sei que um amigo é aquela pessoa de quem jamais vou esquecer. Não importa se está longe ou se está perto, basta estar do lado de dentro! Dizem que é muito difícil falar sobre amizade. Eu discordo. Acho que falar é muito fácil. Difícil mesmo é conhecê-la. É senti-la. É vivê-la...

A amizade não se busca, não se sonha, não se deseja; ela exerce-se! É uma virtude... (Simone Weil)

por Flávia Carvalho

segunda-feira, agosto 21, 2006

O ‘MALEFÍCIO’ DA DÚVIDA

“...Por que a dificuldade de dizer para alguém o quanto ele é, ou foi, importante? Dizer não como recurso de sedução, mas como um ato de generosidade, dizer sem esperar nada em troca. Dizer, simplesmente.” (Martha Medeiros)

“Flávia, o principal dentro de um relacionamento é o mistério. Não deixe que a pessoa saiba o que você pensa, como você realmente é ou como você se sente. A pessoa precisa ficar insegura. Se souber de tudo e se sentir segura, já era...”. Este conselho já me foi dado em vários momentos da minha vida. Parece que só conseguiremos manter as pessoas ao nosso lado se elas não souberem de tudo. Ou pelo menos não souberem o mais importante. Por isso que grande parte, para não dizer a maioria, das relações sustenta-se em meias verdades ou em mentiras parciais. Mas até que ponto a dúvida gera benefícios? Sempre discuti com alguns amigos o ‘bônus’ e o ‘ônus’ do ato de falar o que se sente. Realmente, como para tudo na vida, existe o lado positivo e negativo de se ‘desnudar’, de se revelar ao outro, ainda mais quando envolve sentimentos. Falar para mim é reconhecer, por meio de palavras, que algumas situações existem e que eu não posso simplesmente ignorá-las e fingir que não estão acontecendo. Isso pra mim não é mistério, é anulação! Como disse um amigo certa vez: “Calar certas coisas é como guardar dinheiro debaixo do colchão - investimento sem lucro, diversão sem gozo. Burrice das brabas!” Lógico que aqui estou falando de sentimentos, falando de como expressar o que se sente, como se sente e não de sair falando tudo da sua vida para todos. Não! É diferente! É falar como se sente em relação ao outro ou em relação a alguma situação.

O silêncio cruel é aquele que gera a dúvida. Porque deixar o outro inseguro de seus sentimentos como forma de prendê-lo? Mas para que prendê-lo? É uma ilusão achar que a dependência nos relacionamentos é o que faz eles existirem e perdurarem. O outro não precisa estar preso a você para te amar. Pelo contrário, quando mais livre, mais puro e verdadeiro será seu amor e mais próximo estará. Já escondi algumas vezes como eu me sentia e sofri muito com isso. Já falei demais e deixei transparecer minhas vontades e desejos. Também sofri! Depois de um tempo eu me dei conta de que já sofri por FALAR e por CALAR. Mas ainda prefiro acreditar na sinceridade. Aquele silêncio que confunde, que maltrata o outro apenas para tentar manter “poder” dentro de um relacionamento é muito daninho. Descobri que o silêncio do outro me tortura, me atrapalha. Não gosto de me sentir insegura dentro de nenhum relacionamento, seja no trabalho com os colegas, em casa com a família, com meus amigos ou com um parceiro. E se a insegurança é o que mantém as pessoas juntas, então definitivamente prefiro morrer só. O mistério pode até nos proteger sim. Mas será que protegidos nós conseguimos viver? Acredito que não. Isso não é viver, é sobreviver. E não é o que quero pra mim. Prefiro a vulnerabilidade do falar à dissimulação do calar. Pois assim eu não apenas sobrevivo, eu VIVO!

“...Libertar uma pessoa pode levar menos de um minuto. Oprimi-la é trabalho para uma vida. Mais que as mentiras, o silêncio é que é a verdadeira arma letal das relações humanas.”

por Flávia Carvalho

quarta-feira, agosto 16, 2006

QUANTO MAIS IDIOTA MELHOR!


“...esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único “não” realmente aceitável. Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração...” (Arnaldo Jabour)


Realmente nós estamos ficando cada vez mais sérios, mais profundos, mais intensos. E quanto mais ficamos assim, menos alegres, menos felizes e menos satisfeitos parecemos estar também. Que coisa não? Tenho a impressão que não está sobrando tempo para resgatarmos a espontaneidade da infância, a simplicidade, o desapego, enfim, a “idiotice”. Porque muitos dizem que é melhor ser criança? Aposto que você já ouviu isso. Já deve ter ouvido também que as crianças é que são felizes. Porque elas são tão autênticas? Porque têm sempre respostas simples para coisas que julgamos tão complicadas? Fácil. Porque as crianças ainda são “idiotas”. E como diz Jabour, ser idiota é vital para felicidade!

Sorrir é maravilhoso. Gargalhar então, nem se fala. É tão bom poder rir das nossas próprias mancadas. Poder rir dos nossos “micos” e até rir de quem ri da gente. Fazer brincadeiras. Fazer uma careta horrorosa que faça o outro rir. Escrever ‘ridículas’ cartas de amor. Cantar desafinado. Dançar fora de hora. Pular de alegria. Tomar sorvete no frio. Chorar de felicidade, chorar de raiva; enfim, viver cada momento como se fosse único, porque ele realmente será único. Isso é ser idiota. Já temos preocupações demais nessa vida. Na vida tudo é passageiro e as nossas preocupações também deveriam ser. Mas não. Nós insistimos em levá-las para toda parte. Desde o nascer ao pôr do sol elas estão ao nosso lado. Há momentos em que precisamos ser sérios e serenos. Então vamos deixar a preocupação e a serenidade para esses momentos. Devemos deixar que a nossa criança brinque dentro de nós, porque todos nós já fomos crianças um dia! Ela não pode morrer. Mais cedo ou mais tarde, com certeza teremos momentos de dor em nossas vidas e sentiremos muito. Mas como diz Carlos Drummond de Andrade: A dor é inevitável. O sofrimento é opcional. Eu prefiro continuar acreditando nisso e, definitivamente, sendo uma idiota!

“...a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos...”


por Flávia Carvalho

sexta-feira, agosto 11, 2006

NOS TEUS BRAÇOS PAI...

“...Papai, neste belo dia que é teu, só teu, que Deus doou para ti, deixa-me te abraçar com todo amor e gratidão ao som desta simples canção. Doçura existe em tua voz, ternura neste teu meigo olhar. Eu quero te abraçar de coração agradecido. Papai, tu és o meu melhor amigo...”

Assim que nasce, ou até mesmo quando é dada em adoção e os pais vão buscá-la, a criança geralmente tem seu primeiro contato com a mãe. Ela é sempre a primeira a querer pegá-la no colo, abraçá-la, sentir seu cheiro, beijá-la, acariciá-la... No meu caso foi um pouco diferente. Aliás, o meu início de vida foi bem diferente. A primeira pessoa com quem eu tive esse contato foi meu pai. Foi ele que me deu o primeiro abraço, o primeiro beijo, o primeiro colo. Foi com ele que aprendi a ser comilona, pois a primeira, ou melhor, as ‘muitas’ primeiras mamadeiras foram dadas por ele também. Foi meu pai que viajou tão longe para buscar a ‘pequerrucha’ que, junto com mamãe, tanto esperou. Pode até não ser uma lembrança visual, consciente, mas com certeza tenho marcado dentro de mim algo forte que senti e está selado para sempre em meu coração.

Papi querido, ainda posso sentir aquele momento em que fui entregue nos teus braços. Consigo ver o brilho do teu meigo olhar e sentir a ternura de tua voz ao dizer “minha filhinha” (ou será que já era ‘filhoca’?). Foi a minha primeira experiência de amor, do nosso amor. Eu posso até imaginar, e pra quem conhece você não é difícil imaginar isso, teus olhinhos cheios d’água e a boquinha tremendo de emoção. Tenho certeza que o que tu sentiste naquele momento foi uma experiência única e inesquecível, como já me escreveste uma vez, lembras? Pelas mãos do PAI, eu vim parar nos teus braços pai. E apesar de estar sem mamãe ao teu lado, tu me trouxeste para ela, dentro daquela cestinha, com tanto cuidado e carinho como um presente de Deus. Dali em diante foste o pai que qualquer filha sonha em ter: brincalhão, carinhoso, amoroso, emotivo, participativo, incentivador, chorão, enfim, um verdadeiro paizão... Todos sabem que a melhor forma de ensinar é dando exemplos. Para mim tu és um grande exemplo, o maior de todos: simplicidade, amor, compaixão, honestidade, sinceridade, companheirismo, fidelidade e, principalmente, de respeito ao próximo. Muitas vezes já quis desistir das coisas e tu, com essa fé inabalável, me dizes sempre que eu não desista, que eu devo seguir em frente para alcançar meus sonhos e que sempre estarás ao meu lado para me ajudar, seja aqui ou em qualquer outro lugar. Isso é o que me faz seguir em frente, isso é o que me faz acreditar que ainda vale a pena!

Desempenhaste tão bem o teu papel e plantaste um brilho tão especial no meu olhar, que a cada gargalhada juntos, a cada aconchego, a cada ensinamento, a minha vontade de viver é reforçada. Por isso eu volto a dizer: posso não ter o teu sangue e mamãe pode não ter me dado a luz, mas vocês dois me deram o mais importante: me deram a VIDA e me fizeram saber e sentir o quanto sou especial e amada. E como diz a canção que sempre cantamos para ti: ...tu és a razão de quem por pai te recebeu e melhor que tu meu pai...somente DEUS...


por Flávia Ferreira (a tua 'filhoca')

sexta-feira, agosto 04, 2006

LLEVAME CONTIGO...

Muita cultura, bastante comida gostosa, gargalhadas, lágrimas (minhas e de Emília, por supuesto!) e tudo mais. Foram dias intensos de grande agitação. Não senti a altitude como muitos me preveniram, mas senti muito cansaço. Cheguei hoje e ainda estou encantada com tudo que vi. Foi uma viagem perfeita e mágica. Rara em todos os sentidos. Fiz novos amigos, solidifiquei velhas amizades... Serei eternamente grata aos meus queridos Eliseo e Emilia por terem me proporcionado momentos tão especiais! Com eles a diversão era garantida! Bailamos ao som de Los Mariachi, conversamos, cantamos: “...llevame contigo, aunque tenga que sentir dolor...”, matamos a saudade. E esses momentos, é claro, sempre brindados com aquela bebida típica, extraída do cacto. Qual? A TEQUILA, lógico. E para tomá-la, todo um ritual. Sal, limão e ‘sangria’. Aí é soltar o versinho: “Acima, abajo, al centro e a dentro”. Uma delícia!

O México foi berço de várias civilizações nativas americanas avançadas, das culturas mesoamericanas, como a civilização Maia e os Aztecas. É difícil descrever paisagens como as que vi. O charme de PUEBLA, a pequena CHOLULA e suas mais de 360 igrejas, uma para cada dia do ano. As ruas estreitas de TAXCO com íngremes subidas e deliciosas descidas. As famosas pirâmides de TEOTIHUACÁN, que significa “o local onde os homens se tornam deuses”, realmente só podem ser obras de Deus, de tão perfeitas. Esta última cidade é uma das mais impressionantes do mundo antigo. Foi fundada antes da era cristã. E aquelas construções, com toda a sua beleza, mais parecem verdadeiras obras de arte! Os templos e pirâmides deste sítio arqueológico refletem a grandiosidade de um povo, mas ainda não revelou a sua história. E esse mistério é o que encanta!

O nosso mundo é cheio de coisas lindas e jamais imaginadas por nós. Não posso dizer que gostei mais de um lugar ou de outro. Todos são diferentes e têm suas particularidades. Adorei poder aprender mais sobre essa cultura e sobre a civilização que povoou essas terras antes que os espanhóis as invadissem. Muitas coisas foram destruídas, é verdade, mas aquelas ruínas têm em si uma história própria, uma energia única, algo que só sentimos quando estamos lá, frente a toda aquela maravilha. Diz a lenda que a pirâmide da Lua suga a energia das pessoas e a do Sol, revigora. Bom, eu saí de lá revigorada! É difícil imaginar como o homem conseguiu chegar ao topo daquelas montanhas transformando simples pedras em verdadeiros templos de adoração. Muitas pirâmides foram destruídas, mas ficaram as ruínas. E com elas, todo o mistério de um povo! Como pode o ser humano conseguir fazer algo tão lindo e perfeito? Não sei! Mais um mistério. E isso é algo impenetrável à razão humana, tudo que a nossa inteligência é incapaz de explicar ou compreender, por isso é DIVINO!

“...QUE LASTIMA PERO ADIOS, ME DESPIDO DE TI Y ME VOY...”