segunda-feira, agosto 21, 2006

O ‘MALEFÍCIO’ DA DÚVIDA

“...Por que a dificuldade de dizer para alguém o quanto ele é, ou foi, importante? Dizer não como recurso de sedução, mas como um ato de generosidade, dizer sem esperar nada em troca. Dizer, simplesmente.” (Martha Medeiros)

“Flávia, o principal dentro de um relacionamento é o mistério. Não deixe que a pessoa saiba o que você pensa, como você realmente é ou como você se sente. A pessoa precisa ficar insegura. Se souber de tudo e se sentir segura, já era...”. Este conselho já me foi dado em vários momentos da minha vida. Parece que só conseguiremos manter as pessoas ao nosso lado se elas não souberem de tudo. Ou pelo menos não souberem o mais importante. Por isso que grande parte, para não dizer a maioria, das relações sustenta-se em meias verdades ou em mentiras parciais. Mas até que ponto a dúvida gera benefícios? Sempre discuti com alguns amigos o ‘bônus’ e o ‘ônus’ do ato de falar o que se sente. Realmente, como para tudo na vida, existe o lado positivo e negativo de se ‘desnudar’, de se revelar ao outro, ainda mais quando envolve sentimentos. Falar para mim é reconhecer, por meio de palavras, que algumas situações existem e que eu não posso simplesmente ignorá-las e fingir que não estão acontecendo. Isso pra mim não é mistério, é anulação! Como disse um amigo certa vez: “Calar certas coisas é como guardar dinheiro debaixo do colchão - investimento sem lucro, diversão sem gozo. Burrice das brabas!” Lógico que aqui estou falando de sentimentos, falando de como expressar o que se sente, como se sente e não de sair falando tudo da sua vida para todos. Não! É diferente! É falar como se sente em relação ao outro ou em relação a alguma situação.

O silêncio cruel é aquele que gera a dúvida. Porque deixar o outro inseguro de seus sentimentos como forma de prendê-lo? Mas para que prendê-lo? É uma ilusão achar que a dependência nos relacionamentos é o que faz eles existirem e perdurarem. O outro não precisa estar preso a você para te amar. Pelo contrário, quando mais livre, mais puro e verdadeiro será seu amor e mais próximo estará. Já escondi algumas vezes como eu me sentia e sofri muito com isso. Já falei demais e deixei transparecer minhas vontades e desejos. Também sofri! Depois de um tempo eu me dei conta de que já sofri por FALAR e por CALAR. Mas ainda prefiro acreditar na sinceridade. Aquele silêncio que confunde, que maltrata o outro apenas para tentar manter “poder” dentro de um relacionamento é muito daninho. Descobri que o silêncio do outro me tortura, me atrapalha. Não gosto de me sentir insegura dentro de nenhum relacionamento, seja no trabalho com os colegas, em casa com a família, com meus amigos ou com um parceiro. E se a insegurança é o que mantém as pessoas juntas, então definitivamente prefiro morrer só. O mistério pode até nos proteger sim. Mas será que protegidos nós conseguimos viver? Acredito que não. Isso não é viver, é sobreviver. E não é o que quero pra mim. Prefiro a vulnerabilidade do falar à dissimulação do calar. Pois assim eu não apenas sobrevivo, eu VIVO!

“...Libertar uma pessoa pode levar menos de um minuto. Oprimi-la é trabalho para uma vida. Mais que as mentiras, o silêncio é que é a verdadeira arma letal das relações humanas.”

por Flávia Carvalho

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