segunda-feira, fevereiro 06, 2006

PERDÃO: MAIS QUE UM ATO, UM IDEAL DE AMOR

“Ama teu próximo como a ti mesmo”. Um valioso preceito, talvez o mais difícil dos mandamentos de Deus. Mas como falar de perdão sem falar de amor? Impossível, pois são sentimentos genuinamente interligados. Sabemos que o amor é o principal mandamento divino. Com amor perdemos o medo, vivemos sem angústia, sem amargura, sem rancor. E quem ama mostra que Deus existe em seu coração. Mas como amar aqueles que nos fazem mal?

Eu sempre me senti muito culpada por não conseguir perdoar, meramente porque não entendia a essência do perdão, o seu real significado. A palavra grega traduzida como "perdoar" significa cancelar ou remir. Isso para mim era muito difícil, pois achava que perdoar era esquecer o mal que a pessoa havia me feito e fingir que estava tudo bem. Mas isso é muito penoso e não é solução para nenhum problema. Apenas repetir essas palavras: “Eu te perdôo” ou “Eu perdôo fulano”, nunca trouxe paz nem tranqüilidade para minha vida, por que no fundo eram apenas palavras e não sentimentos verdadeiros. Muitas vezes me senti realmente prejudicada, vítima das situações. O perdão não elimina esse fato, mas o torna menos importante. Não podemos escapar de todos os males. Ninguém está imune à maldade das pessoas ou às injustiças. Mas podemos parar de nos sentirmos vítimas e encarar os acontecimentos de outra maneira.

Mas é preciso preparar o coração para perdoar. Antes de tudo é imprescindível a aceitação: Aceitar a injustiça, a dor da decepção, a deslealdade. Não só aceitar que estamos tendo esses sentimentos, mas senti-los verdadeiramente. Depois devemos nos esforçar, e é um esforço soberbo, de imaginar por que a pessoa fez isso, lembrando que nem sempre existe uma resposta para certas atitudes. Por isso devemos considerar também que nada garante à partida que uma boa intenção não decaia e transforme-se em algo atroz. Mas, ao fazer isso, vamos mudando, nos libertando e o sentimento negativo se dissipa.

Quando somos machucados em nosso íntimo, em nossa alma, em nossos sentimentos, a nossa tendência é manter a raiva e alimentar o ódio. Isso só faz crescer a mágoa e afastar as pessoas. Hoje eu entendo que compreender não é desculpar, assim como perdoar não é esquecer. Perdoar não significa necessariamente que eu tenho que reconciliar-me com quem me magoou, nem tornar-me cúmplice deste alguém. Quando Deus disse para amarmos o próximo como nós mesmos, ele quis dizer para não fazermos nem desejarmos ao outro aquilo que não queremos que desejem ou façam conosco. Portanto, perdoar é simplesmente não desejar, nem querer o mal, a quem nos fez mal, por mais grave que tenha sido a agressão.

Visto por este ângulo, na minha concepção o perdão passou a ser um sentimento muito mais fácil de lidar e finalmente consegui perdoar todos aqueles que me machucaram. Minha alma e meu coração foram libertos de sentimentos negativos e pesados. Podemos e devemos entender que o problema não vai simplesmente desaparecer, mas pode parar de doer se formos capazes de perdoar. Isso implica que, mesmo tendo sofrido algum mal, podemos ficar em paz. E, ao contrário do que muitos pensam, o perdão não deixa livre quem nos magoou, ele liberta sim, mas é a nós mesmos. Hoje me sinto mais leve, mais feliz.


“Quem perdoa uma ofensa mostra que tem amor, mas quem fica lembrando o assunto estraga a amizade.” (Prov. 17.9) Este versículo da bíblia nos ensina que quem perdoa tem amor e que amar é perdoar sempre. Então, a partir da minha própria experiência, e de todos os sentimentos que vivi com e sem o perdão, eu arriscaria dizer que perdoar é a realização do amor. Em vista disso, quem ama e quer ser feliz deve praticar o perdão. Lembre-se de que ser feliz é uma escolha diária. A felicidade não pode ser obtida a partir de alguém ou de alguma coisa, ela só pode ser encontrada em um único lugar: dentro do nosso próprio coração.

por Flávia Ferreira

Um comentário:

Anônimo disse...

MarthaVieira disse...
Flavinha! Esse blog tem a sua alma! Parabéns pelos textos - coerentes e sensatos. Retratam um pouco das ansiedades e medos de cada um de nós...Ademais, evidenciam seu dom pela escrita.
Parabéns, mesmo!
Um beijão,
Martha