domingo, outubro 01, 2006

A VIDA PEDE PAUSAS

“(…) e os amores são como os impérios: desaparecendo a idéia sobre a qual foram construídos, morrem junto com ela.” (MILAN KUNDERA)

Términos, rompimentos, renúncias... SEPARAÇÃO! Desde pequenos aprendemos que, nesta vida, tudo tem começo, meio e fim. Mas mesmo sabendo disso, nós não conseguimos evitar o sofrimento. Alguns até preferem continuar em determinadas situações para não vivenciar a dor. É mais cômodo. E o comodismo parece mais conveniente. É muito difícil quando nos separamos de alguém, rompemos qualquer tipo de relacionamento, seja de amor, amizade, trabalho ou família. É dolorido, parece que nada mais tem graça. Perdemos o ânimo, às vezes perdemos até a vontade de viver. Mas não podemos adiar a dor. Ela tem que ser vivida em seu momento e com toda intensidade. Depois de algum tempo a dor passa e a esperança renasce. Isso é a vida! E a vida continua. A vida tem que continuar mesmo que sejam necessárias pausas de vez em quando, ainda que essas pausas nos deixem sozinhos por um tempo. Talvez o maior e mais temido sofrimento do ser humano seja a solidão. Mas o que é solidão afinal? Será que é estar longe de tudo e de todos? Será que é não ter pessoas à sua volta? Será que é ficar alheio às situações? Ou será que é simplesmente um descontentamento com a vida e consigo mesmo? Às vezes nós podemos estar rodeados por pessoas e ainda assim continuarmos sós. O pior e mais cruel dos sentimentos não é estar só, mas sim, sentir-se só. E porque será que isso acontece?

"Quero saber, entre todas aquelas que eu sou, quem é a chefe, quem manda dentro de mim. Me confundo com tanta autoridade, já não sei bem a quem obedecer." (MARTHA MEDEIROS - O DIVÃ)

Acredito que muitas pessoas não se conhecem e nem fazem questão de se conhecer. Têm medo do silêncio, não sabem o que fazer com seus pensamentos e questionamentos, com seus tantos ‘eus’. Mas é na solidão que aprendemos a nos conhecer, pois precisamos nos escutar. Qualidades são reavaliadas, defeitos salientados, fantasmas e medos enfrentados. Todos nós deveríamos experimentar a solidão em algum momento de nossas vidas para descobrir as maravilhas de um belo e rico encontro interior. Esse tipo de solidão não é triste, não é ruim, pelo contrário, é saudável e nos ajuda a compreender melhor o mundo e as pessoas. Certa vez li uma frase que me marcou. Dizia que estar junto sem temperar com estar só é tão ruim quanto estar só sem saber o que é estar junto. E é verdade, como eu posso viver bem com os outros se não sei viver em harmonia comigo mesma? Mas infelizmente muitos ainda preferem continuar na superficialidade, perdendo-se em conversas frívolas com pessoas fúteis. Eu prefiro o enigmático. Adoro a profundidade dos meus encontros e o retorno do pensamento sobre mim mesma, minhas idéias, meus problemas e minhas situações. Hoje posso até estar só, mas não me sinto só, porque simplesmente aprendi a viver comigo! E como diz Fernando Pessoa: "Eu que me agüente comigo e com os comigos de mim".

“(...) a maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura. Às vezes é preciso recolher-se...” (LYA LUFT)


por Flávia Carvalho

Um comentário:

Zeca-DF disse...

"eu prefiro ser enigmático"... Eu me sinto igual a você Flávia e tenho a mesma visão. Viemos ao mundo para nos relacionar, e passamos por momentos solitários, ainda mais nos dias de hoje com tanto egoismo. As vezes não sabemos viver a nossa própria existência e nos abalamos pela "falta". Essa falta pode ser uma pessoa, um amor, um sentido...
E "sentir-se" só acontece por esse motivo. Porque deixamos de enxergar novos horizontes até termos algo semelhante e que preencha o nosso vazio. Inconscientemente temos ainda alguma esperança pois é dificl se libertar até mesmo da própria dor. Linda reflexão Flávia, você não está só...